ANATOMIA

OSSOS, ARTICULAÇÕES E MEMBROS IMPORTANTES NA TERAPIA OCUPACIONAL

A Anatomia, suas características, aplicações e subdivisões

O termo anatomia (do grego anatémnein, "dissecar"), é atribuído tradicionalmente a um dos discípulos de Aristóteles, Teofrasto, que no século IV a.C. realizou as primeiras experiências para o conhecimento dos componentes isolados dos seres vivos. A anatomia é o ramo da medicina que estuda, macro e microscopicamente, a constituição e o desenvolvimento dos seres organizados. Ela analisa, em termos descritivos, cada um dos diferentes níveis de organização dos vegetais, dos animais e do ser humano.

Subdivisões. Os componentes da matéria viva ordenam-se hierarquicamente. Assim, distinguem-se, em ordem ascendente, as organizações subcelulares, celulares, histológicas (de tecidos), orgânicas, de sistemas etc. Essa classificação, baseada no nível de organização da matéria viva, permite distinguir as três categorias de organismos que justificam a divisão da anatomia em vegetal, animal e humana. Considerando-se as várias perspectivas de investigação, tem-se diversas subdivisões de caráter didático, as mais importantes das quais são enumeradas a seguir.

A anatomia geral, ou descritiva, ocupa-se de isolar e descrever, pormenorizadamente, cada um dos componentes dos distintos sistemas anatômicos: raízes, caule, folhas e aparelho reprodutor, nos vegetais, e aparelho digestivo, respiratório, neuromuscular, genital etc., na área animal e humana. A anatomia topográfica estuda os órgãos e sistemas que compõem uma determinada parte do corpo. Já foram elaboradas, por exemplo, detalhadas análises anatomotopográficas da cabeça, do pescoço, da região abdominal e dos membros inferiores e superiores.

A principal área de aplicação desse ramo da anatomia é a cirurgia. A anatomia patológica estuda as modificações por que passam as células, tecidos e órgãos em decorrência dos diferentes processos suscetíveis de tratamento: doenças, defeitos congênitos ou traumatismos. Esse ramo da anatomia desenvolveu-se, sobretudo, com base em autópsias. No entanto, o progresso dos métodos de observação e das técnicas de anestesia tem contribuído para que os dados fornecidos por autópsias sejam complementados por exames em seres vivos (as biópsias).

Por fim, a anatomia comparada ocupa-se do estudo dos aspectos que permitem distinguir as diversas espécies animais ou vegetais, a partir de critérios puramente morfológicos. Seus resultados possibilitam definir as unidades que constituem o reino vegetal e o animal, e proporcionam o fundamento da taxonomia, ciência da classificação dos organismos vivos. Nesse domínio, intervêm ainda inúmeros aspectos descritivos relacionados com os restos fósseis e com as características embriológicas de cada espécie.

Dados históricos A ciência da anatomia desenvolveu-se muito lentamente. Sua história pode ser dividida em quatro períodos: (1) até a dissecção científica por Vesalius (1543); (2) até o advento da fisiologia científica com William Harvey (1628); (3) até a demonstração da unidade da vida por Charles Darwin (1859); (4) depois de Darwin.

Da antiguidade ao Renascimento. Foram os filósofos da antiguidade que, ao mesmo tempo que exerciam a "arte de curar", começaram a esboçar o estudo da anatomia. Não podendo utilizar o corpo humano para satisfazer sua curiosidade científica, visto que tal procedimento constituía então profanação religiosa, limitavam-se ao estudo das carcaças de animais domésticos e de macacos, neste último caso por serem esses animais os mais parecidos com o homem. Apesar do pouco valor científico de tais observações e descrições, tiveram o mérito de ser as primeiras a orientar de maneira científica o estudo da anatomia. Os embalsamadores chegaram a aprender alguma coisa de anatomia ao preparar as múmias, e os cirurgiões, ao tratarem os ferimentos. O papiro de Edwin Smith (3000-2500 a.C.) contém alguns dados sobre a anatomia da cabeça e do cérebro. Já o papiro de Ebers (1600 a.C.) contém maior quantidade de informações. Alguns trabalhos de anatomia foram atribuídos a Hipócrates, mas não há informação de que ele ou Aristóteles houvessem dissecado o corpo humano. Ambos imaginavam que o coração era a sede do intelecto.

Aristóteles estudou muito os animais e foi, por assim dizer, o fundador da anatomia comparada. Por volta de 300 a.C., começou-se a estudar em Alexandria (Egito) os cadáveres de criminosos justiçados. Foi nessa época que pontificou Herófilo, o maior dos anatomistas gregos. Antes dele a anatomia era mais especulativa do que descritiva. Dissecando o corpo humano, Herófilo dava à anatomia uma base realmente concreta. Estudou o cérebro e o reconheceu como o centro do sistema nervoso e a sede da inteligência; distinguiu os nervos motores dos sensitivos; demonstrou que a aorta e as artérias continham sangue e não ar; descreveu os vasos linfáticos do intestino.

Erasístrato, nessa época, acreditava que as artérias continham ar ou spiritus vitalis e suspeitou que os ramos terminais das artérias e veias eram ligados por tubos menores, fora dos limites da visibilidade. Foi o primeiro a afirmar que as veias, à semelhança das artérias, faziam centro no coração e não no fígado. Descreveu as válvulas do coração. Com a morte de Herófilo e de Erasístrato, a anatomia entrou numa fase de declínio, para ressurgir no início da era cristã, com Marino, que viveu em Roma, no tempo de Nero, e com Rufo, de Éfeso, cujos estudos, a exemplo dos de seus antecessores, que não podiam trabalhar em cadáveres humanos, foram feitos em animais. Rufo descreveu o timo, o quiasma óptico, o pâncreas e as trompas uterinas. Marino não deixou escritos; suas lições se preservaram através de seu discípulo, Galeno.

Com grande habilidade, Galeno dissecava corpos humanos e de animais, escrevia e ensinava. De seus escritos, muitos se perderam, restando, entretanto, 59 publicações sobre anatomia, com destaque para De musculi dissectione (Sobre a dissecação do músculo), de clareza e precisão surpreendentes. Muito do que ele sabia sobre ossos e articulações procede de Marino. Seus livros ainda são lidos com interesse e alguns nomes por ele dados a ossos, nervos e outras partes do corpo persistem. Depois de Galeno passou-se a estudar mais nos livros do que na própria natureza.

O escolasticismo medieval fez de Galeno e Aristóteles autoridades absolutas. A dialética metafísica dominava sobre a observação objetiva. Em algumas universidades foi proibida a pesquisa, sendo punidos os médicos que ousassem discordar de Galeno. Os artistas estimularam os estudos de anatomia, pois queriam representações exatas do corpo. No Renascimento, Leonardo da Vinci, Albrecht Dürer, Michelangelo e Rafael realizaram dissecções.

Leonardo começou fazendo medições dos músculos e se tornou um anatomista, chegando a realizar trinta autópsias, mais de 750 desenhos anatômicos e 120 cadernos de apontamentos sobre anatomia. Muitos dos achados de Leonardo foram confirmados por anatomistas posteriores. Seu trabalho preparou o caminho para o "restaurador da anatomia", o médico flamengo Andries van Wesel, conhecido como Andreas Vesalius, cujo grande livro sobre o assunto foi publicado 24 anos depois da morte de Leonardo. De Vesalius a Harvey. Vesalius inicia o segundo período da evolução histórica da anatomia. Em 1533, com a idade de 19 anos, foi para a Universidade de Paris, onde estudou medicina sob a orientação do famoso Jacques Dubois, mais conhecido pela latinização de seu sobrenome, Sylvius.

Colou grau em Pádua, onde se tornou famoso por sua habilidade e conhecimento de anatomia e cirurgia. Em 1537, assumiu a cadeira de cirurgia e anatomia da universidade, e foi o primeiro a receber salário como professor de anatomia, função em que se notabilizou, corrigindo os erros cometidos por Galeno. Em 1543 publicou a obra De humani corporis fabrica libri septem (Sete livros sobre a estrutura do corpo humano), que apresentava pela primeira vez, em belas e exatas ilustrações, as estruturas do corpo. Essa obra revolucionou a ciência médica da época, imprimindo-lhe enorme progresso (o departamento de anatomia da Universidade de São Paulo possui um exemplar original da primeira edição do livro).

Depois que Vesalius deixou Pádua, a cadeira de anatomia foi ocupada por cinco eminentes anatomistas. O primeiro foi seu assistente Realdo Colombo. Vieram depois Gabriello Fallopius, Hieronymus Fabricius ab Aquapendente (Geronimo Fabrizio), Giulio Casserio (Casserius) e Adrian van der Spigelius. Em Bolonha, Jacopo Berengario da Carpi contribuiu para o conhecimento do apêndice e do timo. Giulio Aranzio (Arantius) estudou o coração e Costanzo Varoli descreveu o cérebro (pons Varolii). Em Roma, Bartolomeo Eustachio (Eustachius) fez muitas descobertas.

Sua fama, aliás póstuma, adveio de seus magníficos desenhos anatômicos. Foi dos primeiros a reproduzi-los em cobre e não em madeira. Na França, Jacobus Sylvius (Jacques Dubois) contribuiu para o conhecimento dos ossos da cabeça e para a reforma da nomenclatura anatômica. Na Suíça, Felix Platter escreveu magnífico trabalho sobre o olho. Na Inglaterra, Thomas Vicary publicou, em 1548, um pequeno livro, Anatomie of the Bodie of Man (Anatomia do corpo humano), talvez o primeiro livro de anatomia em língua inglesa. William Harvey (1578-1657), depois de quatro anos com Fabricius, retornou à Inglaterra e se dedicou especialmente ao estudo da circulação. Aprendeu tudo sobre o coração, juntou os fatos, acrescentou observações e assentou os princípios da circulação do sangue, com isso revolucionando a ciência médica.

Foi anatomista e fisiologista, escrevendo o livro Exercitatio anatomica de motu cordis (Exercício anatômico sobre o movimento do coração). Chegou a afirmar que o sangue passava das ramificações arteriais para as ramificações venosas. Passou o resto de sua vida buscando identificar os capilares e, embora não os tivesse observado, previu sua existência. Quatro anos após a morte de Harvey, em 1657, Marcello Malpighi conseguiu ver pela primeira vez os capilares sangüíneos num preparado de pulmão de rã. De Harvey a Darwin. O terceiro período, especialmente no século que sucedeu à fase de Harvey, se tornou a idade heróica da anatomia microscópica e da embriologia.

Esse período se caracterizou pela fundação de sociedades científicas e filosóficas, publicações de textos, atlas, criação de museus, escolas de anatomia, etc. As investigações anatômicas foram em grande parte realizadas pelos cirurgiões. J.G. Wirsung e um colaborador descobriram o canal pancreático; O. Rudbeck, da Suécia, e T. Bartholinus, da Dinamarca, identificaram, independentemente (em 1651 e 1652, respectivamente) o sistema linfático e sua terminação nas veias do pescoço, embora as pranchas de Eustachius já os tivessem exibido. Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin, sobre a origem das espécies, revolucionou as ciências biológicas.

Aristóteles e Harvey pressentiram essa descoberta; os paleontologistas e os estudiosos de anatomia comparada chegaram a colher dados prenunciadores. Mas foi preciso a inteligência e o espírito de síntese de Darwin para que se concluísse que os seres vivos estavam ligados por traços de hereditariedade. Baseando-se em fatos anatômicos, a teoria de Darwin foi aos poucos se valorizando e acabou amplamente aceita antes do fim do século XIX. Isso uniu a anatomia humana com a dos animais e das plantas. Daí por diante as ciências biológicas descortinaram um campo imenso de investigações fundamentadas na anatomia. As pesquisas não mais se limitaram ao corpo humano.

O estudo dos cromossomos em moscas e os experimentos do monge austríaco J. G. Mendel em híbridos de ervilhas trouxeram imensa contribuição ao conhecimento da hereditariedade. Os mamíferos inferiores constituíram campo fértil para o estudo dos processos vitais do homem. A anatomia na atualidade. Durante séculos a dissecção fora perigosa. Atualmente, pode ser realizada com segurança, graças aos recursos existentes para a assepsia e preparo do cadáver.

No século XX, a linha de investigação se faz no sentido de estudar no ser vivo, e não apenas no cadáver. Por meio da radioscopia (fluoroscopia), é possível observar os órgãos internos em movimento; as radiografias fixam os aspectos mais variados das estruturas superficiais e profundas. Atualmente, técnicas como os raios X, o ultra-som, a ressonância magnética e a tomografia computadorizada simplificam bastante o estudo da anatomia, permitindo a clínicos e cirurgiões observarem a máquina humana em funcionamento. Os velhos métodos de estudo da anatomia e o equipamento singelo de antigamente já não satisfazem.

Hoje estuda-se a anatomia de todas as espécies de animais, com as mais variadas técnicas, em inúmeros laboratórios universitários. Os departamentos de pesquisa das melhores universidades dispõem de espaço e equipamento para investigações em muitos campos: anatomia microscópica (com o microscópio eletrônico), citologia (com centrífugas, aparelhos para rápida fixação em ar líquido e para irradiação de tecidos); cultura de tecidos; embriologia; fluoroscopia. Nomenclatura anatômica

Chama-se nomenclatura anatômica ao conjunto de termos empregados para indicar e descrever as partes do organismo; é a base da linguagem anatômica. Compreende termos que indicam a situação e a direção das partes do corpo; termos gerais, comuns a vários constituintes do corpo; e termos especiais, que denominam os diferentes constituintes do corpo. Até o fim do século XIX não havia acordo geral sobre os termos usados na anatomia.

Do primeiro esforço conjunto para criar uma terminologia anatômica padrão, realizado em Basiléia (1895), resultaria a Basle Nomina Anatomica (BNA). Com o crescente desenvolvimento dos conhecimentos anatômicos, várias propostas foram apresentadas para modificação e atualização da nomenclatura. A Nomina Anatomica aceita hoje, oficial e internacionalmente, é a de Paris, PNA, de 1955, complementada por vários congressos internacionais de anatomia. Ao lado da Nomina Anatomica existem as nomenclaturas histológica e embriológica internacionais. A nomenclatura anatômica oficial adota o latim, mas em uso corrente é traduzida para o vernáculo. A Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA), publicou e mantém atualizada a tradução da Nomina Anatomica para o português, revista por uma comissão mista Brasil-Portugal, por decretos e determinações dos governos de ambos os países.

Os termos constantes da nomenclatura anatômica têm, em geral, origem grega, latina, árabe ou híbrida, e encontram seu fundamento na forma do órgão ou parte dele (sela túrcica do osso esfenóide, músculo deltóide, ligamento redondo); em sua situação (artéria vertebral, nervo mediano); em suas conexões (ligamento acromioclavicular, músculo intercostal), em sua função (músculo extensor dos dedos, glândula lacrimal). Outros termos, de origens as mais diversas, muitas vezes impróprios, foram consagrados pelo uso e são conservados.

Os nomes dos autores que acompanham muitas designações devem ser excluídos, porque além de nada significarem morfológica ou funcionalmente, não representam, na maioria das vezes, justa homenagem histórica. Termos gerais são habitualmente abreviados: a. - artéria; v. - veia; n. - nervo; m. - músculo; lig. - ligamento; gl. - glândula; g. - gânglio. Estudo de anatomia O estudo, ainda que elementar, da anatomia humana, é feito em cadáveres de indivíduos adultos, considerados normais, mas deve incluir noções relativas aos fatores gerais de variação e às diferenças morfológicas decorrentes das modificações resultantes da passagem do estado de vivo ao de cadáver.

Em vista da relatividade dos conhecimentos que se podem obter pela dissecação de cadáveres, a qual representa um meio e não a finalidade da anatomia, os métodos de observação têm sido aperfeiçoados e deles se vale a anatomia para conseguir dados no próprio indivíduo vivo; assim, entre outros recursos, utilizam-se os raios X, a cinerradiografia, as drogas radioativas, aparelhos elétricos registradores e, para exame de órgãos cavitários, a endoscopia. Fatores gerais de variação em anatomia. São os seguintes os fatores gerais de variação em anatomia a considerar: idade, sexo, grupo étnico e biotipo. Idade. Verificam-se modificações anatômicas com o progredir da idade, nos diversos períodos ou fases da vida intra e extra-uterina. As fases de vida pré-natal ou intra-uterina são: (1) ovo ou germe, primeiras duas semanas; (2) embrião, até o fim do segundo mês; (3) feto, do terceiro ao nono mês.

Na vida pós-natal ou extra-uterina os períodos principais são os seguintes: (1) recém-nascido e período neonatal, primeira quinzena após o nascimento; (2) infância, até o fim do primeiro ano; (3) meninice, que inclui a segunda infância, entre os dois e cinco anos e a pequena puberdade, dos seis aos dez anos; (4) pré-puberdade, dos dez anos à puberdade; (5) puberdade (início de maturidade sexual), dos 12 aos 14 anos, muito variável nos seus limites e nos dois sexos; (6) pós-puberdade, da puberdade até cerca de 21 anos nas mulheres e 25 anos nos homens, passando por adolescente e jovem, sucessivamente; (7) virilidade, em que o indivíduo é adulto, atinge a maturidade, que perdura até a menopausa (castração fisiológica natural), aproximadamente aos cinqüenta anos na mulher e aos sessenta no homem; (8) velhice, até ao redor dos oitenta anos, seguido de senilidade. Sexo. O sexo masculino e o feminino apresentam caracteres próprios, correspondentes ao dimorfismo sexual. Grupo étnico. Compreende os grandes grupos raciais -- branco, negro e amarelo -- e os seus graus de mestiçagem, responsáveis por diferenças morfológicas externas e internas.

Biótipo. Refere-se ao tipo constitucional que existe em cada grupo racial. Há dois tipos extremos e um médio, além dos tipos intermediários. Nos tipos extremos é que melhor se notam as diferenças, quer nos caracteres morfológicos externos, quer nos internos, derivando das mesmas uma construção corpórea qualitativa e quantitativamente diversa. Os tipos extremos são denominados: (1) longilíneo -- indivíduos esguios, magros, altos, com pescoço longo, tórax achatado anteroposteriormente e membros longos em relação ao tronco; (2) brevilíneo -- atarracados, baixos, com pescoço curto, tórax tendendo para cilíndrico e membros curtos relativamente ao tronco. O normolíneo ou mediolíneo tem caracteres intermediários aos dois tipos extremos (éctipos). Além desses fatores de variação, existem as variações individuais, que vêm dificultar a aplicação prática dos conhecimentos anatômicos oriundos de uma descrição padrão. Normal em anatomia. Em medicina, normal significa, de modo geral, sadio, hígido.

No entanto, em anatomia, há que considerar os conceitos estatístico e idealístico. Pelo conceito idealístico, entende-se por normal o melhor para o desempenho da função, enquanto, pelo conceito estatístico, normal é o mais freqüente, ou seja, o que ocorre na maioria dos casos estudados e que serve de base para a descrição anatômica padrão. Isso significa que, embora haja uma constituição semelhante para todos os homens, existem diferenças de um indivíduo para outro, sem que seja prejudicado o bom funcionamento do organismo. Essas pequenas diferenças morfológicas, que aparecem e são encontradas em qualquer dos sistemas orgânicos, denominam-se "variações". Quando o desvio da normalidade é maior, podendo perturbar uma determinada função, denomina-se "anomalia". Por fim, se a anomalia for tão acentuada que deforme profundamente a construção do organismo, é denominada "monstruosidade", que pertence propriamente ao domínio da teratologia, isto é, ao estudo das aberrações dos seres vivos.

Divisão anatômica do corpo humano. O corpo humano é constituído fundamentalmente de cabeça, pescoço, tronco e membros. A cabeça compreende crânio e face e une-se ao tronco por meio do pescoço. No tronco consideram-se o tórax, o abdome e a pelve, com as respectivas cavidades torácica e abdominal separadas entre si por um septo muscular, o diafragma. A cavidade abdominal prolonga-se na cavidade pélvica. Os membros, em número de quatro, dois superiores e dois inferiores, possuem uma parte radicular, cinta ou cintura do membro, pela qual se unem ao tronco, e uma parte livre. Na parte livre de cada membro superior consideram-se o braço, o antebraço e a mão, esta última com palma e dorso, e cinco dedos. Na parte livre do membro inferior consideram-se a coxa, a perna e o pé, este último com planta e dorso do pé, e cinco dedos. A parte radicular do membro superior é denominada espádua ou ombro; a do membro inferior denomina-se quadril.

Na transição do braço para o antebraço há o cotovelo; do antebraço à mão, o pulso ou punho; da coxa à perna, o joelho; e da perna ao pé, o tornozelo. Na parte posterior do pescoço, tronco e quadril, encontram-se, respectivamente, a nuca, o dorso, o lombo e a região sacrococcígea. Ladeando esta última, localizam-se as nádegas, regiões glúteas. Planos e eixos do corpo humano. A descrição anatômica do corpo humano baseia-se no indivíduo adulto, em posição ereta, isto é, em pé ou posição ortostática, com os membros superiores estendidos, aplicados ao tronco, os inferiores justapostos, e com a face, as palmas da mão e as pontas dos pés dirigidas para a frente.

Nessa posição anatômica de descrição, o corpo humano pode ser delimitado por planos e atravessado por eixos imaginários, a saber: (1) plano longitudinal, que divide o corpo em partes direita e esquerda, sendo que, se essa divisão for mediana, em metades direita e esquerda simétricas, o plano será sagital mediano; por qualquer outro plano sagital, paralelo a esse, será um plano lateral, direito ou esquerdo; (2) plano horizontal ou transversal, que separa o corpo em partes superior e inferior; há o transversal cranial, o transversal caudal, e todos os outros a eles paralelos; (3) planos frontais, ventrais ou dorsais, isto é, anteriores ou posteriores, e a eles paralelos; (4) a cada plano corresponde um eixo, tendo-se assim, eixos sagitais, anteroposteriores; eixos longitudinais, ou verticais, súpero-inferiores; e eixos transversais, laterolaterais ou destro-sinistros. Termos de posição em anatomia. Na descrição anatômica usam-se termos específicos para situar um órgão ou parte dele em relação a outros.

Medial significa que a estrutura está mais próxima do plano sagital mediano. Lateral indica posição mais afastada do plano mediano. Muitas vezes os termos medial e lateral também são usados para designar a posição relativa de duas estruturas: "o nervo é medial à artéria". Anterior pode significar a parte "da frente" do corpo, porém em sentido mais amplo refere-se também à posição mais próxima da frente do corpo.

Do mesmo modo, posterior refere-se às costas. Proximal e distal é a porção mais próxima ou mais afastada do centro. Cranial e caudal são termos indicativos de formações superiores (mais próximas da cabeça) ou inferiores (mais próximas da região caudal). Interno e externo, superficial e profundo, são outros termos de posição muito empregados em anatomia, assim como intermédio, isto é, que tem situação intermediária a duas outras estruturas ou formações ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

 

Clavícula

Clavícula, osso situado na parte mais alta e mais frontal da caixa torácica, e que forma a borda anterior da cintura escapular. Alongada e plana, tem forma de "S". Articula-se, na extremidade inferior, com o manúbrio (peça superior) do esterno e, na superior, com o acrômio (extremidade) da omoplata (articulação acromioclavicular).

Essas ligações permitem um pequeno movimento em todos os eixos. Além disso, o tórax une a clavícula ao ligamento costoclavicular e a omoplata aos ligamentos coracoclaviculares (conóides e trapezóides). A seu terço interno, unem-se, pela parte posterior, o músculo esternoclidomastóideo e, por baixo, o subclávio, e, em seu terço externo, o trapézio, por trás, e os deltóides, pela frente. Sob a clavícula, estão o vértice pulmonar, por onde passam a artéria e a veia subclávias (que irrigam o braço) e o plexo braquial (origem de todos os nervos do membro superior).

É um osso muito sujeito a fraturas, habitualmente causadas por traumatismos indiretos, quando se recebe um golpe no ombro ("fratura de ciclista"). Tais fraturas consolidam-se em pouco tempo e não deixam seqüelas, podendo ser tratadas com simples remédios para a dor. Quando se associam lesões dos ligamentos coracoclaviculares, costuma-se recorrer a tratamento cirúrgico. As lesões da articulação acromioclavicular podem requerer, segundo a gravidade, cirurgia reparadora.

Omoplata

Omoplata, também chamada escápula, osso plano situado no ângulo súpero-externo das costas, que forma, junto com a clavícula, a cintura escapular. A omoplata tem a forma de um triângulo. Em sua face anterior (costal) nasce o subescapular e se insere o músculo denteado grande (o principal responsável pela estabilização da omoplata, função que divide com o trapézio). Sua face posterior é dividida, pela espinha da escápula, em fossas supra-espinhosa (origem do músculo supra-espinhoso) e infra-espinhosa (origem do músculo infra-espinhoso).

Na borda externa nascem os músculos redondo menor e maior, e na borda interna (vertebral) o músculo angular da omoplata e o rombóide. No ângulo súpero-externo encontra-se a glenóide, cavidade com forma de segmento esférico (ampliada por uma roda fibrocartilaginosa), que forma com o úmero a articulação glenoumeral. O acrômio nasce da espinha por trás da glenóide e forma uma cobertura para a cabeça umeral junto com os ligamentos acromioclaviculares.

A coracóide, uma apófise com forma de gancho, nasce da borda superior e inclina-se para a frente. Nela se inserem o peitoral menor, o coracobraquial, o tendão curto do bíceps e os ligamentos coracoclaviculares.

O trapézio se insere na borda superior da espinha, na borda interna do acrômio e na borda posterior da clavícula, e o deltóide nasce da borda inferior da espinha, da borda externa do acrômio e da borda anterior da clavícula.

Esterno

Esterno, osso ímpar, anterior, da linha média do tórax. Plano, com forma de espada curta, fica situado no rebordo anterior ou linha média da caixa torácica e é formado, na realidade por três ossos, os quais são unidos por placas de fibrocartilagem. Somente em idade avançada essas placas se calcificam, formando um osso único.

A porção superior, manúbrio esternal (o "punho" da espada), articula-se em seus ângulos súpero-laterais com as clavículas e em suas bordas laterais com a primeira e a segunda costelas. A porção média, o corpo esternal (a "lâmina" da espada), articula-se em suas bordas laterais com o segmento que vai da terceira à sétima costelas, formando com o manúbrio um ângulo obtuso de vértice anterior.

A porção inferior, apêndice xifóide (a "ponta" da espada), pode continuar a direção do corpo ou inclinar-se para frente ou para trás. No manúbrio, originam-se os músculos esternoclidomastóideo e, na face anterior do corpo, os músculos peitorais maiores (que nas aves chegam a formar a crista anterior do esterno, por serem músculos potentes que movem as asas).

O interior do esterno é cheio de abundante medula óssea vermelha, razão pela qual é a região preferida para realizar punções para diagnóstico de muitas enfermidades sangüíneas (punção de medula).

Antebraço

Antebraço, a parte dos membros superiores compreendida entre o cotovelo e o punho. Seu esqueleto é formado pelo cúbito e pelo rádio, ossos articulados entre si que permitem a rotação chamada pronossupinação (na pronação, mostra-se o dorso da mão e na supinação, a palma).

Em sua extremidade proximal (superior), articula-se com o úmero (osso do braço) e, na distal, com a primeira fila do carpo (ver Mão). Os músculos responsáveis pelos movimentos do antebraço, assim como de outras partes dos membros superiores, são divididos em quatro grupos: flexores da mão e dos dedos (superficiais e profundos), situados na face volar (a da palma da mão); extensores da mão e dos dedos (curtos e longos); supinadores e desviadores radiais (inclinam a mão para o lado do rádio), localizados no bordo radial (o do polegar); e pronadores e desviadores cubitais (no bordo do cúbito).

O sangue é conduzido ao antebraço pela artéria umeral, a qual se divide nos ramos radial e cubital (que depois levarão o sangue até a mão) e interósseas volar e dorsal. O sangue retorna por plexos venosos profundos (acompanham as artérias) e superficiais. A inervação fica por conta dos nervos radial (zona dorsal), mediano (zona volar-radial) e cubital (zona cubital).

Cotovelo

Cotovelo, articulação composta pelo úmero (osso do braço), o cúbito e o rádio (ossos do antebraço). A extremidade inferior do úmero apresenta uma superfície articular interna (tróclea) para o cúbito (articulação umerocubital) e uma superfície externa (côndilo lateral) para o rádio (articulação umerorradial).

Em ambas, realizam-se a flexão e a extensão do cotovelo. No cotovelo, o cúbito apresenta uma superfície simétrica da tróclea (gínglimo), limitada na sua extremidade superior pelo olécrano (inserção do tríceps braquial) e em sua extremidade inferior pelas coronóides (inserção do braquial anterior, ver Bíceps). A extremidade superior do rádio forma a cabeça radial, a qual se articula com o côndilo lateral e com a fosseta sigmóidea do cúbito (articulação radiocubital proximal), permitindo a rotação que se denomina pronossupinação.

A estabilidade do cotovelo é assegurada pela geometria de suas articulações e por seus ligamentos laterais. Nos lados da tróclea e do côndilo lateral, encontram-se a epitróclea (interna) e o epicôndilo (externo), que são zonas de inserção muscular sujeitas a patologias de sobrecarga (ver Epicondilite).

As fraturas do cotovelo costumam afetar a superfície articular e produzir, assim, graves deformidades e rigidez articular. Na maioria dos casos, necessitam de tratamento de natureza cirúrgica, com a reposição anatômica dos fragmentos resultantes da lesão.

Braço

Braço, região dos membros superiores compreendida entre as articulações do ombro e o cotovelo. O esqueleto do braço é composto por um único osso, o úmero. Sua extremidade superior é recoberta pelos músculos que movem o ombro (rotadores, elevadores, aproximadores e anteversores). Na face anterior do braço, localizam-se os músculos bíceps braquial, o mais superficial, e braquial anterior, o mais profundo (que é flexor principal do cotovelo). A face posterior do braço, separada da anterior por tabiques (membranas) intermusculares, é ocupada pelo tríceps braquial, o principal extensor do cotovelo. Na epitróclea (saliência arredondada na parte interna do úmero), nascem músculos flexores do punho e dos dedos e pronadores da mão e do antebraço. Do epicôndilo, saliência externa inferior, saem músculos extensores do punho e dos dedos e supinadores da mão e do antebraço. Todo o braço é irrigado pela artéria umeral, continuação da axilar, que percorre a face interna do braço até o cotovelo. A drenagem venosa é dupla: profunda (veia umeral) e superficial (veias cefálica e basílica). A metade posterior do braço é inervada pelo radial, e a metade anterior e lateral, pelo músculo-cutâneo. Pela face medial correm até o antebraço os nervos mediano e cubital.

Apófise mastóide

Apófise mastóide, protuberância cônica do osso temporal do crânio humano. Está situada atrás do ouvido e a infecção deste estende-se com facilidade à apófise mastóide, provocando dor e inflamação.

Costela

Costela, arco ósseo e cartilaginoso, disposto simetricamente aos pares, que se estende (alguns) da coluna vertebral ao esterno, delimitando o tórax. Cada costela é formada por uma parte óssea posterior e uma cartilagem (cartilagem costal) anterior. A cartilagem calcifica-se progressivamente com a idade, produzindo às vezes quadros dolorosos (costocondrite ou síndrome de Tsietze).

O arco ósseo é plano, e, partindo de trás para a frente, se curva e se dirige para baixo. Sua extremidade posterior articula-se com as vértebras superior e inferior. Os bordos superior e inferior são a inserção dos músculos intercostais. Os vasos e nervos intercostais ficam junto à sua face inferior.

Existem 12 costelas de cada lado. Só as 14 superiores (sete de cada lado) se unem diretamente ao esterno. A oitava, a nona e a décima , antes de ligar-se ao esterno, fazem-no entre si. As outras (costelas flutuantes) ficam livres nos músculos abdominais. As fraturas nas costelas são produzidas por traumatismo direto. Consolidam-se espontaneamente em seis semanas e, neste caso, não se deve usar nenhum tipo de atadura, apenas analgésicos.

O principal risco é representado pela falta de mobilidade torácica, em conseqüência da dor, o que pode causar retenção de secreções, e infecções como a pneumonia. As fraturas múltiplas podem provocar sangramento na cavidade torácica (hemotórax), entrada de ar por lesão pulmonar (pneumotórax) ou desequilíbrio dos movimentos respiratórios.

Dedos

Dedos, membros alongados e finos situados nas partes terminais das mãos e dos pés. Nos seres humanos, o esqueleto ósseo das mãos e dos pés é assemelhado. Os primeiros dedos (polegar e dedo grande do pé) têm duas falanges (distal e proximal). Do segundo ao quinto, as falanges são três (distal, média e proximal). Na maioria dos animais, é menor o número de dedos e de falanges; só é maior em casos especiais (mamíferos marinhos).

As articulações metacarpofalangianas ou metatarsofalangianas são enartroses que permitem flexão, extensão, aproximação e separação. As articulações interfalangianas são trócleas, que só possibilitam flexão e extensão. As articulações dos metacarpianos e metatarsianos com o carpo (pulso) e o tarso (pé), respectivamente, permitem a separação (abdução) e aproximação (adução) dos dedos entre si (funções quase atrofiadas nos pés dos seres humanos).

O polegar humano, além disso, é capaz de executar, na articulação carpometacarpiana, o movimento de oposição (em sentido contrário ao dos outros dedos), básico para a pegada de precisão. Os dedos propriamente ditos têm somente ossos e articulações, tendões, conjuntos vaso-nervosos, o tecido gorduroso da parte carnosa e a pele, com sua formação especializada, a unha.

As duas faces laterais de cada dedo são percorridas por artérias, veias e nervos, responsáveis pela vascularização e pela inervarção. Os dedos são movimentados por músculos flexores e extensores localizados no antebraço, e por flexores, interósseos e lombricais, situados na própria mão.

Além disso, o polegar é movimentado por três músculos curtos localizados em sua base (eminência tenar): abdutor, adutor e oponente.

Dura-máter

Dura-máter, a mais externa das três meninges que envolvem o sistema nervoso central. A dura-máter ou paquimeninge é um revestimento resistente, formado por um tecido fibroso denso, pela qual se distribuem vasos sangüíneos e nervos. Fica aderida ao periósteo da tábua interna dos ossos da base do crânio e às suturas (uniões entre ossos da abóbada cranial).

No resto do crânio e na coluna cervical, está separada do periósteo pelo espaço epidural (que forma cavidades venosas no crânio e é cheio de tecido gorduroso na coluna).

Sua superfície externa é rugosa e a interna, lisa e brilhante. Compõe revestimentos em torno dos nervos craniais e das raízes nervosas espinhais sensoriais (posteriores) e motoras (anteriores), até que elas se unem, dando origem ao nervo raquidiano.

No crânio, a dura-máter emite prolongamentos que dividem a cavidade cranial em diversos segmentos: a foice do cérebro, vertical em sentido ântero-posterior, separa os dois hemisférios cerebrais; a foice do cerebelo, que se dispõe de forma semelhante à da outra, insinua-se entre os dois hemisférios cerebrais; a tenda do cerebelo é um septo horizontal, o qual se interpõe entre os lobos occipitais cerebrais e o cerebelo; e a tenda da hipófise é uma lâmina horizontal que fecha a sela túrcica, a qual apresenta um pequeno orifício central, pelo qual penetra o pedículo da hipófise.

Pia-máter

Pia-máter, a mais interna das três membranas meníngeas (ver Meninge). A aracnóide (meninge intermediária) e a pia-máter (meninge interna) são as leptomeninges (meninges moles). Muito delicada, a aracnóide não tem vasos sangüíneos nem nervos. Acompanha a forma da dura-máter, limitando com ela o espaço subdural, cavidade virtual. A pia-máter adere intimamente ao tecido nervoso, reveste todos os seus relevos e introduz-se em todos os seus sulcos, constituindo os tabiques neurogliais ou membrana pioglial.

Ricamente vascularizada e inervada pelo sistema nervoso vegetativo, seus vasos penetram pelos tabiques piogliais para distribuir-se pela matéria nervosa, constituindo a fonte de abastecimento de sangue do tecido nervoso do encéfalo e da medula. Além disso, junto com o epêndimo (canal que passa pelo centro da medula espinhal) dos ventrículos encefálicos, a pia-máter forma a tela dos plexos coróides (zonas de formação do líquido cefalorraquidiano).

Na medula espinhal, a pia-máter está unida à aracnóide por trabéculas aracnóides e à dura-máter, por ligamentos denteados. Esses ligamentos mantêm a medula em sua posição. Entre a aracnóide e a pia-máter, está situado o espaço subaracnóideo, que é preenchido pelo líquido cefalorraquidiano.

No encéfalo, esse espaço forma as cisternas cérebro-medular (entre a face inferior do cerebelo e a posterior do bulbo), pontina, interpeduncular, quiasmática e da fossa de Silvio.

Meninge

Meninge, cada uma das membranas de tecido conjuntivo que recobrem o sistema nervoso central, formado pelo encéfalo (telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo, protuberância anular, bulbo raquidiano) e a medula espinhal (ver Cérebro). As três meninges, dura-máter (paquimeninge, externa) e aracnóide e pia-máter (leptomeninges), limitam três espaços, o epidural (entre a dura-máter e o canal raquidiano), o subdural (entre a dura-máter e a aracnóide) e o subaracnóideo (entre a aracnóide e pia-máter).

O espaço epidural é aproveitado para injetar na medula anestésicos locais (anestesia peridural), o que permite obter insensibilidade temporária do abdome e dos membros inferiores (ver Anestesia; Cirurgia). As infecções nas meninges (ver Meningite) são processos graves, que requerem assistência médica urgente.

Os traumatismos cranioencefálicos (traumatismos diretos e indiretos na cabeça) podem produzir contusões e concussões cerebrais e hematomas intracranianos. As hemorragias no espaço epidural (hematomas epidurais) são produzidas por ruptura de artérias meníngeas e acabam por comprimir o encéfalo, o que pode provocar a morte da vítima.

No entanto, têm bom prognóstico, se são diagnosticadas e tratadas a tempo. As hemorragias no espaço subdural (hematomas subdurais) e subaracnóideo são conseqüências de graves lesões traumáticas da massa encefálica; às vezes, necessitam de intervenção cirúrgica e têm prognóstico muito ruim para a sobrevivência e a recuperação funcional da vítima.

Os meningiomas são tumores formados por células das leptomeninges. De variada histologia, o prognóstico e a possibilidade de extirpação cirúrgica dependem especialmente de sua localização.

Esfenóide

Esfenóide, osso ímpar central da base do crânio, simétrico, situado atrás do etmóide e do frontal, à frente do occipital e por dentro dos temporais. De geometria complexa, apresenta alguns aspectos que o distinguem: um corpo, duas asas maiores, duas asas menores e duas apófises pterigóides.

A face superior do corpo apresenta em seu centro a sela túrcica, depressão na qual se aloja a hipófise. As faces laterais do corpo são dotadas de um sulco para a artéria carótida. O interior do corpo é vazio, formando os seios esfenoidais, ligados pela face anterior do corpo esfenoidal às fossas nasais.

A face inferior do corpo faz parte da abóbada nasal e se articula com o etmóide e o vômer. As asas menores apresentam em sua base o conduto para os nervos e as artérias ópticos. Sua face superior forma a fossa cranial anterior, e sua face inferior, a órbita. Entre elas e as asas maiores saem os nervos motores oculares.

A face superior das asas maiores forma a fossa cranial média, que apresenta orifícios para os nervos maxilar e mandibular e a artéria meníngea média. A face inferior forma parte das fossas temporal, orbital e esfenomaxilar. Articulam-se com o frontal, os temporais e o occipital. As apófises pterigóides descem desse corpo formando as fossas pterigóide, escafóide, nasal e zigomática.

Etmóide

Etmóide, o osso ímpar médio mais anterior da base do crânio. Visto de frente, apresenta forma de cruz latina (que tem um braço maior que os outros dois) de cujos braços horizontais (lâmina horizontal) pendem massas laterais cúbicas. A porção vertical superior da cruz (crista) forma uma eminência ântero-posterior na fossa cranial anterior e articula-se com o osso frontal. O pé da cruz (lâmina perpendicular ou sagital), forma um tabique médio que divide em duas (esquerda e direita) as fossas nasais posteriores; sua borda posterior articula-se com o corpo do esfenóide, sua borda anterior com os ossos nasais, e sua borda inferior com o vômer e o septo nasal cartilaginoso.

A parte central da lâmina horizontal (lâmina cribiforme, ou seja, em forma de crivo) forma parte, em sua face superior, da fossa cranial anterior (onde se instalam os bulbos olfativos), e em sua face inferior, do leito das fossas nasais; apresenta múltiplos orifícios para a passagem das fibras nervosas olfativas.

A face externa das massas laterais (lâmina papirácea, quer dizer, semelhante ao papel, principalmente pela espessura) forma parte da parede interna da órbita ocular, e a face interna forma a parede externa das fossas nasais. Desta face interna nascem os cornetos superior e médio, lamelas ósseas retorcidas que sobressaem nas fossas nasais. Com estas comunica-se o interior das massas laterais, formado por múltiplas cavidades (seios etmoidais) revestidas de mucosa e cheias de ar.

Falange

Falange, osso dos dedos da mão ou do pé. As falanges são ossos curtos, com a forma de um peão de jogo de xadrez, preenchidos por tecido esponjoso recoberto de osso cortical delgado. A base, que é côncava, articula-se com a cabeça do metacarpo (osso da palma da mão) ou do metatarso (osso do pé) ou com a falange anterior. As fraturas das falanges são freqüentes pelas atividades próprias da mão. As pequenas lesões por arrancamento de inserções de tendões ou ligamentos são secundárias a traumatismos indiretos.

Difíceis de diagnosticar por métodos radiográficos, devem ser tratadas com imobilização, se a função do tendão (mobilidade ativa) ou do ligamento (estabilidade articular) estiver preservada; caso contrário, devem ser corrigidas e fixadas cirurgicamente. As fraturas do corpo da falange devem ser reduzidas até se conseguir alinhamentos ântero-posterior e lateral aceitáveis, sem defeitos de rotação. Se a redução é impossível ou não pode ser mantida sem cirurgia, esta deve ser realizada, para redução e fixação. As fraturas que afetam as articulações são sempre de mau prognóstico para a mobilidade articular.

Quando afetam uma porcentagem importante de superfície articular, devem ser reduzidas anatomicamente e fixadas por intermédio de cirurgia.

Joelho

Joelho, articulação da coxa com a perna. É formado por três ossos. O extremo inferior do fêmur forma os côndilos femurais, que têm a forma de duas rodas largas, unidas pelo seu centro e pela sua face anterior; entre ambos, aparece o espaço intercondiliano. O extremo superior da tíbia, os platôs tibiais externo e interno, apresentam a forma de bandejas plano-côncavas, unidas pelo centro na zona das espinhas tibiais (ântero-interna e pôstero-externa).

Sobre os platôs tibiais, apóiam-se (com a interposição dos meniscos), giram, deslizam e giram os côndilos femurais, estendendo ou flexionando o joelho. A rótula é um osso com forma de disco biconvexo, incluso no tendão do quadríceps, que se apóia sobre a face anterior dos côndilos femurais, e desliza para cima e para baixo ao se estender e se flexionar o joelho. Fêmur e tíbia estão unidos por uma cápsula articular e potentes ligamentos laterais (externo e interno) e cruzados (anterior e posterior, que unem o espaço intercondiliano com as espinhas tibiais).

O músculo quadríceps estende o joelho e os isquiotibiais (bíceps femural, semitendinoso, semimembranoso) o flexionam. Na face posterior do joelho encontra-se o oco poplíteo, entre os músculos isquiotibiais da coxa e os gêmeos da perna. Por essa região poplítea passam os vasos e os nervos.

A artéria e a veia poplíteas procedem da femural superficial e acabam por se dividir em três: a tibial anterior, a tibial posterior e a peronial. O nervo ciático divide-se em tibial posterior e ciático poplíteo externo (este, depois, vai se bifurcar em perônio profundo e superficial).

Menisco

Menisco, estrutura discóide de tecido fibrocartilaginoso interposta entre as extremidades ósseas de uma articulação. Pequenos meniscos que melhoram a congruência articular se encontram nas articulações temporomandibular (articulação da mandíbula com o temporal, que permite a abertura e o fechamento da boca e a mastigação), esternoclavicular (ver Clavícula; Esterno), acromioclavicular (ver Ombro; Omoplata) e umerorradial (ver Cotovelo; Antebraço). Os meniscos do joelho têm a forma de um "C", o interno, e de um "O", o externo.

Sua secção é a de um triângulo isósceles de base periférica (unida à cápsula articular) e lados côncavos, formando as faces superior (também chamada femoral) e inferior (também chamada tibial). Estão inseridos por seus extremos anterior e posterior no platô tibial. Graças a sua geometria e a sua elasticidade, os meniscos têm a capacidade de aumentar em 50% a congruência da articulação femorotibial, dar-lhe maior mobilidade e melhorar a transmissão de cargas.

Desta forma, protegem do desgaste (artroses) a cartilagem hialina articular do fêmur e da tíbia. Nos jovens, os meniscos sofrem rupturas por traumatismos agudos indiretos (torções do joelho). A partir dos 30 ou 40 anos, o tecido do menisco experimenta mudanças por envelhecimento, as quais podem originar rupturas espontâneas, chamadas degenerativas, que são, na maioria, assintomáticas. Algumas lesões de meniscos têm capacidade de cicatrização espontânea.

Quando sua sintomatologia (dor, bloqueios, derrames) persiste, devem ser operados, habitualmente mediante artroscopia.

A Coluna Vertebral

1. INTRODUÇÃO

Coluna vertebral, nome genérico dado à estrutura de ossos ou cartilagem que cerca e protege a medula espinhal nos animais vertebrados. Recebe também o nome de raque ou espinha dorsal.

2. ANATOMIA E FISIOLOGIA

A coluna vertebral forma a parte principal do esqueleto. A ela se unem o crânio, as costelas e a pélvis. Nos animais mais primitivos com coluna vertebral, esta consiste em uma coluna cartilaginosa sólida denominada notocórdio. Nos animais superiores, é substituída por uma série de ossos separados denominados vértebras.

No ser humano, a coluna vertebral é formada por 33 vértebras: 7 cervicais no pescoço; 12 torácicas ou dorsais na região do tórax, às quais se unem doze pares de costelas; 5 lombares na zona inferior das costas; 5 sacras unidas, formando um osso sólido (conhecido como sacro) que encaixa como uma cunha entre os ossos da pélvis; e um número variável de vértebras unidas em baixo do sacro formando o cóccix.

A maioria das vértebras individuais tem uma forma semelhante a um anel. Entre cada uma das vértebras, há um disco fibroso espesso de cartilagem, denominado disco intervertebral, que forma a articulação principal entre os corpos de duas vértebras adjacentes.

3. ANOMALIAS E DOENÇAS

Nos seres humanos são freqüentes as curvaturas patológicas da coluna vertebral. Podem ocorrer por debilidade dos ligamentos, doenças ou anomalias congênitas da coluna vertebral e por lesões ou contraturas dos músculos das costas.

São comuns também as afecções decorrentes do surgimento de uma hérnia do material do disco intervertebral, que pode comprimir as raízes nervosas, dando origem a uma hérnia de disco. A artrose (doença degenerativa) da coluna lombar também é muito freqüente.

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