Deficiência Física e Mental

Desde 1982, foi instituído o dia 21 de setembro como o Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes. A data foi escolhida pela maioria das entidades de deficientes em razão da proximidade com a Primavera e o Dia da Árvore e numa alusão ao nascimento das reivindicações de cidadania e participação plena em igualdade de condições.

O termo "Pessoas Deficientes" refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência, congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais. A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 600 milhões de pessoas no Mundo apresentam uma forma ou outra de deficiência. Entre as causas de incapacidade em todo o mundo, estão os acidentes, particularmente acidentes domésticos, totalizando um mínimo de 20 milhões por ano, deixando 110.000 pessoas com deficiências permanentes; e acidentes de trânsito, com mais de 10 milhões de feridos por ano, resultando em amputações, traumas cranianos, paraplegia e quadriplegia. Existem ainda as doenças congênitas, hereditárias e adquiridas. Para citar só um exemplo, 250.000 crianças por ano tornam-se cegas por causa de deficiência crônica de vitaminas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) uma em cada dez pessoas sofrerá durante sua vida uma forma de doença mental. Um em cada quatro de todos os leitos hospitalares do mundo são ocupados por pacientes com doença mental. Mais de 50% dos casos de deficiência física e mental poderiam ser evitados ou minimizados com ações preventivas e melhoria das condições de vida. Em países subdesenvolvidos a proporção de deficientes é maior em virtude das condições precárias de alimentação, saúde e educação.

As guerras e violência urbana também são grandes causas de incapacidade. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 10% da população brasileira têm algum tipo de deficiência. As causas de deficiência física e mental severas mais identificadas foram deficiências mentais (659 mil), déficits motores (455 mil), deficiência visual (146 mil), deficiência auditiva (173 mil) e amputados (145 mil). A lei 7.853/89 dispõe de vários direitos, entre eles o de acessos adequados a edifícios e logradouros públicos, reserva de parcela dos cargos públicos disponíveis e educação especial e gratuita, estes direitos dependem de uma legislação Estadual e Municipal e são desrespeitados de forma gritante.

Pior, como conseqüência da discriminação da sociedade e brutalidade dos “normais”, mensalmente os órgãos de promotoria de justiça de portadores de deficiência registram em média três centenas de denúncias por causa de maus tratos e lesões corporais e cada uma delas passa por uma investigação feita pela promotoria criminal em conjunto com a polícia. O portador de deficiência que se sinta lesado em seus direitos, como por exemplo: a discriminação no trabalho, preconceito e agressão física deverá dirigir-se a uma Procuradoria de Assistência Jurídica ou o Ministério Público Estadual, ou da União. No interior do Estado, toda cidade que possui um Fórum, uma Comarca, tem um membro do Ministério Público, um promotor público, que tem a função de defender os interesses coletivos da comunidade dos portadores de deficiência, gratuitamente. Um exemplo de superação

Como você pode ver, uso o computador de uma maneira diferente, com os dedos dos pés. A razão disso é que, devido a um acidente e de parto em que me faltou oxigênio, fiquei com uma paralisia cerebral. Apesar disso, minhas funções mentais não foram prejudicadas e sou mental e psicologicamente normal – a Internet é o único espaço em que esse fato é evidente: em geral, as pessoas têm uma imensa dificuldade em acreditar que não tenho retardo mental, problemas de percepção ou pelo menos uma ingenuidade elefantina.

De fato, como não posso falar – como também não me é possível andar, comer, me vestir etc, sem ajuda – a comunicação comigo é bastante complicada e, por isso, era bem problemático expressar o que me passava pela cabeça – na melhor das hipóteses, alguém tinha de dizer o alfabeto inteiro para que formasse as palavras letra por letra, o que inviabilizava qualquer tipo de conversação –, o que pode facilmente ser interpretado como sinal de retardo mental, já que é raríssimo alguém com paralisia cerebral não ter esse problema, sem falar do preconceito, que é mais forte em países como o Brasil.

Superar essa dificuldade de comunicação foi um longo processo, o qual foi da compra de uma máquina de escrever elétrica – que hoje me parece algo da Idade da Pedra – até o ingresso na Internet, cuja etapa mais importante foi à confecção de uma tábua com letras e números, coisa simples, mas que me permitiu conversar em tempo real – uso todos esses meios do mesmo modo, com os dedos dos pés. Só tive oportunidade de estudar até a sexta série, mas meu nível cultural não deixa nada a dever ao de um universitário. De fato, para fugir do tédio virei um leitor voraz e acabei me tornando autodidata em Economia.

Também gosto de história, filosofia, ciência – particularmente física, astronomia e matemática –, tecnologia e ficção cientifica – além do mais, ultimamente passei a me interessar pela cidadania dos deficientes físicos. Até 1995, me sentia sem forças para tentar trabalhar, o que só mudou com uma psicoterapia que comecei meio a contragosto num momento difícil. Após diversas tentativas de obter um computador, uma congregação religiosa doou o dinheiro que me possibilitou atingir tal objetivo. Inicialmente trabalhei dois anos fazendo cartões de visita, impressos de vários tipos, folhas de pagamento, em sociedade com uma irmã, e fui, sozinho, Webdesigner da Associação do Jovem Aprendiz em 1998.

A banalidade desses serviços – exceto os dois últimos – me desestimula bastante, ainda mais porque o retorno financeiro não é grande coisa – aliás, gostaria de receber sugestões para superar os obstáculos que encontro para trabalhar e ser menos dependente. Porém, trabalhar não é nada trivial para um deficiente físico, especialmente num país como este. Esta foi a segunda página feita por um deficiente físico na Internet brasileira e recebeu vários selos de qualidade, o que me fez ser tema de inúmeras matérias na mídia impressa. Muita gente — como a maioria dos autores dessas reportagens — me considera um vencedor, um herói, mas não gosto dessa imagem porque acho que minha reação às limitações físicas é uma mera questão de sobrevivência — certamente há algo de extraordinário nisso, mas não muito.

Todo mundo tenta instintivamente compensar suas limitações, embora as pessoas se surpreendam com os resultados dessa atitude nos deficientes físicos. Prefiro que me encarem como um lutador, um ser humano que se viu na contingência de ter que enfrentar problemas maiores do que os normais para ter alegria de viver

O IDOSO E A FAMÍLIA: OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA

Você tem um idoso em sua família? Qual o grau de convivência e responsabilidade presente na relação entre você e esse idoso? Neste artigo vamos procurar abordar a questão do idoso dentro do âmbito familiar sobre dois enfoques. De um lado, o ponto de vista do idoso com suas necessidades e expectativas e do outro a família moderna com sua organização e dinâmica nem sempre entendendo o processo que o idoso vem experimentando nessa etapa da vida. A família é definida como um grupo enraizado numa sociedade e tem uma trajetória que lhe delega responsabilidades sociais. Especialmente perante o idoso, a família vem assumindo um papel importante e inovador, na medida em que o envelhecimento acelerado da população que estamos constatando é um processo recente e ainda pouco estudado pelas ciências sociais.

A Constituição Federal de 1988, apresenta a família como base da sociedade e coloca como dever da família, da sociedade e do Estado “amparar as pessoas idosas assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Neste sentido, cabe aos membros da família entender essa pessoa em seu processo de vida, de transformações, conhecer suas fragilidades, modificando sua visão e atitude sobre a velhice e colaborar para que o idoso mantenha sua posição junto ao grupo familiar e a sociedade.

Aqui cabe uma primeira indagação: Como os filhos, de uma maneira geral acostumados a serem cuidados e dependentes dos pais por bons anos de suas vidas, num dado momento passam a experimentar uma inversão nessas relações quando os pais começam a necessitar de atenção e ajuda? Com as fragilidades que muitas vezes acompanham o processo de envelhecimento é comum surgirem conflitos entre os filhos quando a situação dos pais passa a lhes exigir novas responsabilidades e cuidados. O filme “Parente é Serpente” de Mário Monicelli, 1993, Itália, aborda, entre outros aspectos, essa problemática quando a mãe, percebendo suas limitações físicas e senilidade do marido, delega aos filhos a decisão pelo futuro do casal. Na realidade, a família precisa de um período de adaptação para aceitar e administrar com serenidade a nova situação, de forma a respeitar as necessidades dos pais e evitar que se sintam um encargo para os filhos.

Daí a importância do idoso concentrar esforços para , nos mais diversos sentidos, não se entregar à inatividade evitando o mais possível o sentimento de dependência da família que tanto aflige o idoso. Percebemos, em nossa experiência prática , que os idosos carregam a expectativa de receberem atenção e cuidados dos filhos e netos no momento em que perderem ou tiverem suas capacidades diminuídas, sendo este um fantasma constante a perseguir e preocupar os mais velhos. Outra questão importante diz respeito à conjuntura atual, cujo desemprego estrutural vem colocando à margem do processo produtivo significativo número da chamada população economicamente ativa.

Os idosos, ainda que empobrecidos, tiveram a oportunidade de viver uma fase anterior na qual havia trabalho em abundância e salário suficiente para sustentar sua família, adquirir a casa própria e o direito à aposentadoria. Observamos que em alguns casos de separação conjugal ou desemprego os filhos retornam à casa dos pais em busca de apoio. Eles se constituem para os filhos numa retaguarda e acolhimento em momentos de necessidade e se estabelecendo na família uma relação de dependência material e afetiva. A dependência entre as gerações, no nosso entender, se revela de duas naturezas distintas: de um lado a dependência material dos filhos que por precisarem cada vez mais e por mais tempo da proteção dos pais, não hesitam em aceitá-la, até por entenderem como obrigação.

Do outro lado a dependência emocional dos pais, fruto do modelo familiar estabelecido. Neste modelo a família é entendida como uma forma natural de organização da vida coletiva, uma instituição estável da sociedade, sendo a união entre seus membros a principal responsável pela integração e harmonia da vida familiar. Essa dependência se caracteriza, no nosso ponto de vista, num verdadeiro acordo tácito, ou seja, uma negociação na qual os pais acalentam a expectativa de obter no momento que necessitarem a retribuição pela dedicação oferecida à família.

As mudanças que estão ocorrendo nas representações de família nas novas gerações estão exigindo formas alternativas de convívio familiar e consequentemente a reformulação de valores e de conceitos. A família brasileira do terceiro milênio está cada vez mais distanciada do modelo tradicional, no qual o idoso ocupava lugar de destaque. Estamos vivendo um importante período de transição e mudanças, no qual se faz necessário o entendimento das transformações sociais e culturais que vem se processando nas últimas décadas, para enfrentarmos o nosso próprio processo de envelhecimento dentro de expectativas condizentes com as novas formas de organização familiar.

No entanto, qualquer que seja a estrutura na qual se organizará a família do futuro, há a necessidade de se manterem os vínculos afetivos entre seus membros e os idosos. Nesta fase da vida, o que o idoso necessita é sentir-se valorizado, viver com dignidade, tranqüilidade e receber a atenção e o carinho da família.