Ortopedia

A determinação da normalidade ou anormalidade ortopédica do corpo humano se traduz pela identificação de assimetrias e desvios. São escolhidos determinados pontos fixos que servem de referência para o estudo comparativo de um lado do corpo com relação ao outro, e dos diversos segmentos de um membro com seu homólogo do lado oposto. Ortopedia é a disciplina médica que trata das lesões, doenças e distúrbios em geral que atingem os ossos, músculos e articulações. Também abrange o estudo das doenças reumáticas e as perturbações nervosas que produzem distúrbios osteoarticulares. A cirurgia ortopédica tem como finalidade a correção das malformações de ossos e articulações.

História. Ainda que o uso de próteses para substituir membros amputados e lesados seja prática antiga, a ortopedia não se diferenciou da traumatologia como disciplina independente até o século XVIII. A publicação, em 1741, de um estudo sobre as malformações infantis por Nicolas Andry, da Universidade de Paris, difundiu o termo ortopedia (do grego orthós, "reto", e paidós, "criança"). No mesmo século, Jean André Venel criou um instituto na Suíça para o tratamento de deformidades ósseas em crianças. No século XIX, ampliou-se o conhecimento das funções musculares e do crescimento e desenvolvimento dos ossos. Grandes avanços foram feitos nessa época com a nova operação de tenotomia (corte de tendões, que facilitou a correção de deformidades) e a correção cirúrgica do pé torto, entre outras inovações.

Por iniciativa de Sir Robert Jones e devido ao grande número de lesões decorrentes da primeira guerra mundial, surgiram vários centros ortopédicos no início do século XX. A ortopedia moderna avançou além do tratamento de fraturas, estiramentos, rompimento de tendões e ligamentos e outros traumas para abordar uma ampla variedade de deformidades ósseas congênitas e adquiridas, bem como os efeitos de doenças degenerativas como a osteoartrite. Especialidade que originalmente dependia do uso de pesados suportes e talas, a ortopedia emprega atualmente enxertos de ossos e próteses articulares nos ossos dos quadris e em outros ossos afetados por lesões traumáticas ou deformações, assim como membros artificiais, calçados especiais e suportes para recuperar os movimentos de pacientes inválidos.

Doenças. A ortopedia trata de doenças que podem ser diferenciadas em quatro categorias: malformações congênitas, lesões paralíticas, alterações estáticas e alterações dinâmicas. Entre as primeiras, está principalmente a condrodistrofia ou acondroplasia, a modificação no desenvolvimento dos ossos em comprimento, que produz o nanismo; a osteopsatirose, fragilidade óssea; e as diversas deformações da coluna vertebral. Essas deformações da coluna incluem a espinha bífida, falta de fusão dos arcos vertebrais na linha mediana, que determina a não-oclusão do canal neural; a fusão congênita das vértebras cervicais, a chamada sinostose; e a costela cervical, defeito de diferenciação devido à assimilação do sétimo segmento cervical com o primeiro segmento dorsal que leva à presença anormal de uma costela no pescoço. Ocorre ainda a malformação do tórax, causada por estigma degenerativo coexistente, fatores hereditários e sua combinação com outras deformidades, como o raquitismo. Entre as lesões paralíticas incluem-se, além de todos os tipos de paralisia, as alterações motoras causadas por vírus, entre as quais a mais importante é a poliomielite.

A paralisia cerebral engloba o conjunto das perturbações motoras, ocasionadas por acidentes ou desenvolvimentos anômalos durante o parto, e subdivide-se em diferentes tipos. Assim, a paralisia do tipo atáxico é um processo cerebral caracterizado por disfunções do equilíbrio; a do tipo trêmulo é definida precisamente pelo tremor das extremidades; e a mais freqüente, do tipo espástico, tem origem num desequilíbrio entre os músculos agonistas, dos quais dependem os movimentos, e antagonistas, que se opõem à ação dos primeiros. Entre as lesões estáticas, estão a escoliose -- desvio lateral da coluna vertebral em suas diversas formas -- e a hérnia de disco intervertebral, que consiste num deslocamento total ou parcial de um dos discos cartilaginosos que separam as vértebras.

Também é elevada a incidência dos chamados pés chatos, em que não existe a curvatura normal da planta, e do joanete, que consiste num desvio do grande dedo dos pés para fora. O pé cavo, alteração ortopédica dinâmica, é uma deformidade inteiramente oposta ao pé chato, que tem origem num desequilíbrio muscular. Esse desequilíbrio determina um exagero dos arcos longitudinais dos pés, o que faz com que os doentes se apóiem somente no calcanhar e no antepé.

Traumatologia. O ramo da medicina que estuda os diversos tipos de lesões traumáticas do corpo humano é a traumatologia. Essas lesões podem decorrer de qualquer acidente no qual intervenham agentes físicos de tipo mecânico, variação excessiva de temperatura ou ainda contato com substâncias químicas corrosivas. São elas ferimentos, contusões, entorses, luxações, queimaduras, fraturas, lesões ligamentares, tendinosas e musculares. Quando o traumatismo é de pouca gravidade, passa-se ao atendimento e à aplicação de métodos de cura das lesões locais (prática de punções no caso de contusões com hemorragia interna, repouso, imobilização da zona afetada etc.).

Em caso de traumatismo grave, com dilacerações, ruptura de tecidos e outras complicações, deve-se aplicar suturas, reduzir a fratura e fixá-la, ou ministrar os antibióticos e medicamentos pertinentes para impedir infecções. É necessário atender com rapidez problemas como choque traumático, perda de fluidos ou massa de tecidos, embolias etc. A recuperação das funções do órgão afetado e a reparação estética também são de fundamental importância. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.