Terapêutica

Em sua luta contra a doença, a medicina utiliza os mais variados procedimentos e sistemas para a recuperação da saúde e restauração do equilíbrio de um organismo doente. Terapêutica é o ramo da medicina cuja finalidade é o tratamento das doenças e que estuda os meios adequados para restaurar a saúde do doente. Representa, assim, o objetivo fundamental da medicina. Examinada sob diferentes aspectos, a terapêutica recebe denominações especiais de curativa ou paliativa, fundamental ou complementar.

Diferencia-se ainda pelo uso de recursos isolados ou associados dentro de uma mesma linha de atuação. As medidas que compõem uma terapêutica podem ser higiênicas, dietéticas, psiquiátricas, cirúrgicas, ortopédicas, medicamentosas etc. Quando se faz menção à terapêutica, subentende-se em geral a medicamentosa, da qual há duas modalidades comumente denominadas homeopatia e alopatia, que divergem em seus princípios.

A terapêutica medicamentosa, porém, pode ou não ser conveniente, pois nas perturbações somáticas muitas vezes resultam plenamente satisfatórias medidas como a psicoterapia e a mudança de hábitos, inclusive higiênicos ou dietéticos. Quando há real conveniência de administração de um medicamento, sua escolha deve tomar como base a prospecção de eficácia reconhecida por meio do estudo da doença ou da farmacodinâmica, pesquisa da ação e do efeito das substâncias nos organismos.

História. Os primeiros documentos de conteúdo terapêutico remontam ao Egito, dentre os quais se destaca o papiro de Ebers, de 1.500 a.C. Esse relatório reúne quase mil receitas e procedimentos curativos, numa demonstração de que ocorreu considerável acúmulo de conhecimentos científicos baseados numa terapêutica empírica, ao mesmo tempo em que se desenvolveu o tratamento tradicional de caráter mágico-medicinal.

O principal legado da antiguidade, porém, nesse campo como em tantos outros, procede dos gregos, por meio da importante figura de Hipócrates de Cós, que já no século IV a.C. defendia o princípio da ação curativa da natureza, segundo a idéia do aforismo similia similibus curantur ("o semelhante cura o semelhante"), preceito básico da homeopatia. As idéias homeopáticas de Hipócrates opunham-se às teorias alopáticas de Galeno, do século II da era cristã, segundo as quais "os contrários curam os contrários", princípio assumido majoritariamente pela medicina moderna.

À medida que os conhecimentos médicos evoluíam, os procedimentos terapêuticos foram aperfeiçoados e renovados, passando a contar com recursos que, longe de substituir a eficácia dos tradicionais, os complementam e apóiam de forma decisiva. Assim incorporaram-se ao saber e à prática da medicina novas técnicas de cirurgia, profilaxia e higiene, úteis na luta contra as doenças, às quais se somaram a partir do século XIX técnicas trazidas pelos campos da microbiologia, da bacteriologia, da quimioterapia, da imunologia e da radioterapia.

Qualquer método efetivo de cura entra no vasto campo da terapêutica, desde que respeite a integridade do organismo do paciente e não produza efeitos secundários significativos. A forma tradicionalmente empregada para agrupar os procedimentos terapêuticos tem sido dividir essa parte da medicina em dois campos básicos: o da terapêutica cirúrgica, centrada nas intervenções de cirurgia, e o da chamada terapêutica médica, que engloba tanto a quimioterapia, baseada no uso de produtos químicos para combater a doença, como a fisioterapia, que utiliza diversos meios físicos, naturais ou artificiais, a dietética ou terapia alimentar etc.

No terreno das afecções nervosas, do comportamento e das doenças mentais usam-se técnicas de psicoterapia. Por seu lado, a chamada terapia substitutiva é aplicada para suprir deficiências na produção e secreção de determinadas substâncias do organismo. Procedimentos terapêuticos. Além dos métodos terapêuticos gerais e de uso comum para enfrentar as doenças, tais como o repouso, o estabelecimento de uma dieta adequada para conseguir a cura, ou a execução das medidas de cunho médico segundo o tipo de afecção ou de doença, existe uma ampla e variada gama de procedimentos utilizados em terapêutica, que vão desde massagens e exercícios físicos reabilitadores até o emprego de radiações, medicamentos ou hormônios. A farmacoterapia e a quimioterapia baseiam-se na administração de medicamentos ou substâncias químicas para tratar doenças de origem bacteriana ou alterações produzidas por parasitas.

No entanto, a introdução de uma substância ativa estranha ao organismo significa sempre um impacto maior ou menor sobre ele. O uso de determinado composto quimioterápico só é justificável na medida em que tal impacto seja mínimo, assim como alta a sua eficiência para atacar o agente invasor. O composto tem de ser também de fácil e rápida difusão e o organismo deve poder eliminá-lo sem dificuldade. A utilidade dos compostos quimioterápicos foi comprovada no século XX por sua eficácia no tratamento de doenças de grande incidência, como a sífilis ou a malária.

Por seu lado, a farmacodinâmica tem permitido compreender melhor os processos implicados na eficácia dos compostos no combate à doença. A hormonoterapia consiste na introdução, no corpo do paciente, de hormônios, biomoléculas que atuam como mensageiros no organismo e ativam ou deprimem o funcionamento de determinados órgãos ou funções. Essa terapêutica inclui-se na chamada terapia de substituição, indicada nos casos em que o doente não produz, ao menos em quantidade suficiente, o composto hormonal adequado para realizar determinada função.

Na hemoterapia, emprega-se a administração de sangue por meio de transfusão, vital para salvar a vida do doente no caso de perda de grande volume de sangue e também com fins de imunidade. A administração de soros e vacinas, também de finalidade imunológica, pertence ao campo da imunoterapia. A aplicação do calor com fins terapêuticos, ou termoterapia, é procedimento utilizado desde a antiguidade em forma de compressas molhadas em água quente, cataplasmas, bolsas etc., entre os meios de ação local, ou em forma de banhos termais e de vapor, de ação geral.

O calor exerce efeito benéfico e saudável ao mitigar a dor em numerosas afecções e ao atuar como vasodilatador, o que permite a afluência de sangue ao foco da patologia, bem como a chegada de leucócitos e outros elementos do sistema imunológico, que protegem contra as infecções. O calor também ativa a regeneração celular e dos tecidos, o que é útil no caso das cicatrizes, e influi de forma favorável em processos inflamatórios como o reumatismo. A diatermia é o procedimento pelo qual se gera calor interno por meio da passagem de corrente elétrica através de determinados órgãos e tecidos que reagem à circulação interior de elétrons em seu interior.

O sol e a água são também agentes terapêuticos de primeira ordem e definem dois campos específicos da terapêutica: a helioterapia e a hidroterapia. Desde a antiguidade conhecem-se os efeitos saudáveis dos banhos de sol, devido à ação da radiação solar sobre o organismo. Essa radiação atua como germicida, graças aos raios ultravioleta, produz vasodilatação, em virtude de seu poder calorífico, e induz a pele a formar vitamina D, de papel importante no metabolismo do cálcio e do fósforo e na constituição do sistema ósseo.

O tratamento helioterápico revelou-se útil na cura e melhoria de várias afecções, entre elas tuberculose óssea, raquitismo, acne, eczema e artrite. Os raios solares ativam a circulação sangüínea e aumentam a freqüência e a intensidade respiratórias. A hidroterapia é também empregada sobretudo em forma de duchas, banhos de corpo inteiro ou parciais -- como dos pés, da parte inferior do corpo etc. -- compressas e saunas. Tanto a água fria como a quente provocam de início uma vasoconstrição, seguida de vasodilatação, o que é benéfico para indivíduos sãos, embora seja perigoso para hipertensos e cardíacos. Uma aplicação específica da hidroterapia é a talassoterapia, baseada nos banhos de mar. Um tratamento correlato são os banhos de lama.

Há ainda o tratamento com argila, que é misturada com água até se obter uma pasta meio espessa, segundo a aplicação a que se destine. Também demonstraram eficácia curativa os banhos de areia seca, em particular no que se refere a problemas cutâneos, circulatórios etc. A introdução da eletricidade na medicina como remédio curativo direto deu origem à eletroterapia, que inclui diferentes subespecialidades, como a galvanoterapia ou aplicação de correntes contínuas toleráveis ao organismo, que permite tratar desde nefrite até atrofias e paralisias musculares; a faradoterapia, que utiliza a corrente alternada; ou a iontoforese, que se serve da corrente elétrica para introduzir no corpo do paciente diversas substâncias como íons e medicamentos.

Tem grande relevância também a actinoterapia, que aproveita o poder terapêutico de diferentes tipos de radiações, em doses toleráveis para o homem -- como os raios X e outras. Sua aplicação principal tem sido o tratamento de tumores malignos, mas também é usada para corrigir anomalias hormonais ou cutâneas. O exercício físico, com controle ou acompanhamento, e as massagens têm emprego amplo na atualidade e constituem uma peça básica na multiplicidade de tratamentos terapêuticos. A ação das massagens é muito variada -- segundo sua modalidade, intensidade e zona de aplicação --, e vai desde a ativação da circulação, o relaxamento muscular e a eliminação de gordura subcutânea até a melhoria da função digestiva e secretora ou o revigoramento do tecido epitelial. ©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.